Conheça as reflexões de homilias para setembro
A Família Vicentina, dentro do projeto de evangelização,
divulga mensalmente uma reflexão sobre os Evangelhos de cada omingo. O
Ramo responsável por este projeto é a Congregação da Missão - dos padres
vicentinos.
Confira as reflexões homiléticas de setembro:
VIGÉSIMO SEGUNDO DOMINGO COMUM (02.09.12)
Mc 7, 1-8.14-15.21-23
“Este povo me honra com os lábios, mas o coração deles está longe de mim”
Para que entendamos o alcance do nosso texto de hoje, é necessário
entender o contexto religioso do tempo de Jesus. Entre os elementos
chaves na prática religiosa do judaísmo daquela época, estavam os
conceitos de “puro” e “impuro”. Na nossa teologia, não é possível
cometer um pecado inconscientemente; mas, para o povo do tempo de Jesus,
o pecado tinha uma existência quase independente das pessoas. Certos
atos, certos lugares, certas profissões tornavam as pessoas impuras,
isso é, não aptas para participar do culto, sem primeiro passar pelos
ritos de purificação. A seita dos Essênios levava a preocupação com a
pureza ritual aos extremos; também os fariseus - cujo nome vem de uma
palavra que significa “separados” - davam suma importância à pureza
ritual, assim, muitas vezes, impossibilitando o acesso do povo comum ao
culto do Deus da vida.
Diante dessa situação, a prática de Jesus era altamente libertadora.
Sem recusar-se a participar nos ritos tradicionais, pois era judeu
piedoso e praticante, Ele entendeu que nada que vem de fora da pessoa é
capaz de deixá-la impura! Jesus recuperava a visão dos profetas, que
tradicionalmente tinham conclamado o povo para que vivesse a justiça e a
prática da vontade de Deus, em lugar de se preocupar primariamente com
rituais externos. Jesus reintegrava as massas pobres, excluídas da
vivência comunitária pelas exigências de pureza, impossíveis de serem
seguidas na prática pela maioria. Ele voltava a atenção às disposições
internas das pessoas, que realmente podiam deixar as pessoas “impuras”
diante de Deus: “as más intenções, a imoralidade, os roubos, crimes,
adultérios, ambições sem limite, maldade, malícia, devassidão, inveja,
calúnia, orgulho, falta de juízo” (v. 21-22).
Assim Jesus recupera o ensinamento de profetas como o Terceiro Isaías
(Is 56-66), que diante das injustiças cometidas por pessoas que viviam
na pureza ritual enquanto oprimiam os seus irmãos e ainda esperavam a
proteção de Deus, denunciava: “O jejum que eu quero é este: acabar com
as prisões injustas, desfazer as correntes do jugo, pôr em liberdade os
oprimidos e despedaçar qualquer jugo; repartir a comida com quem passa
fome, hospedar em sua casa os pobres sem abrigo, vestir aquele que se
encontra nu, e não se fechar à sua própria gente” (Is 58, 6-7).
Também é um desafio hoje examinarmos a realidade de nossa prática
religiosa. Sem negar a importância e o papel de celebrações, ritos,
rituais e devoções, o nosso texto exige de nós seguidores de Jesus um
sério exame de consciência, para que verifiquemos se a nossa religião
não está frequentemente semelhante à dos fariseus - perfeita nas
expressões externas, mas vazia por dentro - ou se é como aquela que os
profetas e Jesus propõem, uma religião de prática de solidariedade e
justiça, brotando da fé, e coerente com a nossa fé no Deus da vida, onde
os ritos têm o seu lugar, mas como expressão de um verdadeiro
compromisso com o Reino de Deus. Que não se torne realidade nossa a
denúncia de Jesus diante do legalismo farisaico: “este povo me honra com
os lábios, mas o coração deles está longe de mim” (v. 6).
VIGÉSIMO TERCEIRO DOMINGO COMUM (09.09.12)
Mc 7, 31-37
“Jesus faz bem todas as coisas”
Os eventos relatados no texto de hoje situam-se no território pagão
de Tiro e Sidônia (hoje, Líbano). Marcos faz questão de sublinhar o
contexto geográfico - talvez uma referência à missão aos gentios
(pagãos) que marcava a sua Igreja. Mais uma vez estamos diante de um
milagre de Jesus que manifesta o poder de Deus que age n’Ele, que causa
espanto e alegria entre as testemunhas, e que leva Jesus a proibir que a
notícia se espalhe no território.
Em si, o relato segue o roteiro de tantos outros - uma pessoa
sofrendo (neste caso de surdez e incapacidade de falar corretamente), a
compaixão da parte de Jesus que o leva a atender o pedido de uma cura, a
cura em si, a proibição de espalhar a notícia (o chamado “Segredo
Messiânico) e a incapacidade das testemunhas de guardar o segredo.
A violação da proibição por parte da multidão traz à tona a questão
da verdadeira identidade de Jesus, dando a impressão de que Ele é muito
mais do que um simples curador! As palavras que expressam o entusiasmo
da multidão diante d’Ele (7, 37) são tiradas de uma seção apocalíptica
de Isaías, sugerindo que, nas atividades de Jesus, o Reino de Deus se
faz presente.
Mais uma vez o Segredo Messiânico em Marcos nos faz perguntar sobe o
seu sentido. Provavelmente faz parte da insistência de Marcos de que
Jesus é mais do que um taumaturgo ou milagreiro, e que a sua verdadeira
identidade só se revelará na sua Cruz e Ressurreição. Pois é somente lá,
e não diante dos milagres, que Jesus é proclamado “Filho de Deus” por
uma pessoa humana - o oficial que exclamou ao pé da Cruz, vendo como
Jesus havia expirado: “De fato, esse homem era mesmo Filho de Deus” (Mc
15, 39). Para Marcos, uma fé baseada nos milagres é sempre ambígua, pois
pode levar ao seguimento de Jesus por motivos errôneos e duvidosos.
Para corrigir essa tendência na sua comunidade, ele insiste que só se
pode proclamar Jesus com o título messiânico “Filho de Deus” ao pé da
Cruz, onde não há lugar para dúvidas, pois só se pode crer na fraqueza
de Deus, como diria Paulo, que é mais forte do que a força humana (1Cor
1, 25).
A proclamação das testemunhas que Jesus “fez os surdos ouvir e os
mudos falar” alude a Is 35, 5-6, que faz parte da visão apocalíptica do
futuro glorioso de Israel (Is 34-35, relacionado com Is 40-66). O uso
aqui deste texto vétero-testamentário indica que o futuro glorioso do
novo Israel já está presente no ministério de Jesus.
Podemos ver um sentido mais simbólico, para os nossos dias, na cura
relatada - o de abrir os ouvidos e soltar as línguas. Pois, o sistema
hegemônico de hoje, e os meios de comunicação, frequentemente atrelados e
coniventes, procuram em geral tapar os ouvidos do povo diante dos
gritos dos sofridos; pois, fazem questão de camuflar a realidade sofrida
de milhões, escondendo a realidade ou banalizando-a, como fica claro na
maioria dos noticiários de televisão. Também as forças dominantes
deixam cada vez mais os excluídos sem voz - só pode ter voz ativa quem
produz e consome, na nossa sociedade materialista e consumista. Diante
da surdez e mudez físicas, Jesus cura! O evangelho e a atividade
evangelizadora das igrejas devem ajudar as pessoas para que ouçam o
grito dos oprimidos e para que ajudem a devolver a voz àqueles a quem
lhes foi tirada. Dia 7 de setembro é o dia do Grito dos Excluídos - uma
maneira de as Igrejas e todas as pessoas de boa vontade assinalarem que a
nossa luta está em favor dos excluídos e menos favorecidos, e que essa
atividade não se limita a um passeata neste dia somente, mas que é a
tônica da nossa ação evangelizadora, retomada com muita força no
Documento de Aparecida e em tantos outros documentos do Magistério e da
CNBB.
“Jesus fez bem todas as coisas - fez os surdos ouvir e os mudos
falar!” Que se possa dizer isso de todas as Igrejas e pastorais - que
ajudamos a devolver a capacidade de ouvir os gemidos dos sofredores a
tantas pessoas ensurdecidas pela ideologia dominante, e que ajudamos os
sem-voz a recuperar a voz ativa, nas decisões das Igrejas e da sociedade
em geral.
VIGÉSIMO QUARTO DOMINGO COMUM (16.09.12)
Mc 8, 27-35
“Se alguém quer me seguir, tome a sua cruz, renuncie a si mesmo e me siga”
Como evangelho de hoje, temos a história do caminho de Cesaréia de
Felipe. Embora de grande importância também em Mateus e Lucas, o relato
mais original está no evangelho de Marcos, Cap. 8, o qual se torna o
pivô de todo o Evangelho.
A pedagogia do relato é interessante. Primeiro, Jesus faz uma
pergunta bastante inócua: “quem dizem os homens que eu sou?” Assim,
chovem respostas, pois esta pergunta não compromete - é o “diz que...”
Mas a segunda pergunta traz a “facada”: “E vocês, quem dizem que eu
sou?” Agora não vêm muitas respostas, pois quem responde em nome
pessoal, e não dos outros, se compromete! Somente Pedro se arrisca e
proclama a verdade sobre Jesus: “Tu és o Messias”. Aparentemente, Pedro
acertou, e realmente, na versão mateana, Jesus confirma a verdade do que
proclamou! Afirmou que foi através de uma revelação do Pai que Pedro
fez a sua profissão de fé. Mas, para que entendamos bem o trecho, é
importante que continuemos a leitura pelo menos até o v. 35, porque o
assunto é mais complicado do que possa parecer.
Jesus logo explica o que quer dizer ser o Messias. Não era ser
glorioso, triunfante e poderoso, conforme os critérios deste mundo.
Muito pelo contrário, era ser fiel à sua vocação como Servo de Javé, era
ser preso, torturado e assassinado, era dar a vida em favor de muitos.
Usando o título messiânico “Filho de Deus” - que vem de Daniel 7, 13ss -
Jesus confirmou que era o Messias, mas não o Messias que Pedro quis.
Este, conforme as expectativas do povo do seu tempo, quis um Messias
forte e dominador, não um que pudesse ir, e levar os seus seguidores,
até a Cruz. Por isso, Pedro contesta Jesus, pedindo que nada disso
acontecesse. E como recompensa ganha uma das frases mais duras da
Bíblia: “Afasta-se de mim, satanás! Você não pensa as coisas de Deus,
mas as coisas dos homens” (v. 33). Pedro, cuja proclamação de fé parecia
ser tão acertada, é agora chamado de Satanás - o Tentador por
excelência! Pedro tinha os títulos certos, mas a prática errada! Usando
os nossos termos de hoje, de uma forma um tanto anacrônica, podemos
dizer que ele tinha ortodoxia mas não ortopraxis!
E assim, Jesus usa o equívoco de Pedro para explicar o que significa
ser seguidor d’Ele: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome
a sua cruz, e siga-me” (v. 34). Ter fé em Jesus não é em primeiro lugar
um exercício intelectual ou teológico, mas uma prática, o seguimento
d’Ele na construção do seu projeto, até às últimas consequências.
Hoje, dois mil anos depois, a pergunta de Jesus ressoa forte - a
segunda pergunta. Para nós, quem é Jesus? Não para o catecismo, não para
o Papa ou o Bispo, mas para cada um de nós pessoalmente? No fundo a
resposta se dá, não com palavras, mas pela maneira em que vivemos e nos
comprometemos com o projeto de Jesus - Ele que veio para que todos
tivessem a vida e a vida plenamente (Jo 10, 10). Cuidemos para que não
caiamos na tentação do equívoco de Pedro, a de termos a doutrina e a
teoria certas, mas a prática errada!
VIGÉSIMO QUINTO DOMINGO COMUM (23.09.12)
Mc 9, 30-37
“Se alguém quer ser o primeiro deve ser o último, aquele que serve a todos”
Na estrutura do Marcos, depois da chamada “Crise Galilaica”,
manifestada no episódio da Estada de Cesaréia de Felipe, Jesus muda
totalmente de tática e estratégia. Ele não anda mais com as multidões,
quase não faz mais milagres - dos 19 milagres em Marcos, somente dois
acontecem depois do acontecimento de Cesaréia. Em lugar disso, Ele se
dedica quase totalmente à formação dos seus discípulos, tentando
inculcar neles as atitudes de verdadeiros discípulos, ensinando-os que o
Caminho d’Ele é o caminho da Cruz, da entrega, da doação, e não da
busca do poder, da glória ou da fama. Marcos faz isso de uma maneira bem
planejada. Em três ocasiões, Jesus anuncia a sua futura paixão (8, 81;
9, 31; 10, 33-34). Em cada ocasião os discípulos não compreendem (8, 32;
8, 34; 10, 35-37). E, a partir dessas incompreensões, Jesus torna a dar
um ensinamento, aprofundando vários aspectos do verdadeiro seguimento
d’Ele (8, 34-38; 9, 35-37; 10, 38-45).
O trecho de hoje trata do segundo desses três acontecimentos. A causa
da dificuldade é a tentação do poder. Embora Jesus tenha deixado bem
claro, pela segunda vez, que o seguimento d’Ele é uma vida de entrega,
até à morte, em favor dos outros, os Doze discutem entre si qual deles
era a maior! O poder é tentação permanente em todas as comunidades, não
isentando as Igrejas! Podemos até dizer, com certa dose de humor, que a
busca de poder está no DNA das pessoas humanas! Talvez mais do que outro
motivo, a sede do poder tem sido o que mais tem corrompido nas Igrejas -
mais ainda do que a imoralidade ou a ganância financeira. No século
dezenove, o estadista e historiador católico inglês Lord Acton falou que
“todo poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe
absolutamente”. E não há poder mais perigoso do que o religioso, que
fala em nome de Deus!
Quantos sofrimentos e males causados por essa sede do poder,
disfarçada como mandato de Deus! Desde o fundamentalismo fanático do
Talibã no Afeganistão, até a ufania de certos padres - mormente recém
ordenados - que se ostentam com roupas finas e carros do ano, e dominam,
de uma maneira opressora, religiosas e leigos de muito mais experiência
e sabedoria do que eles... a sede do poder e da dominação, sempre em
nome de Deus ou de Jesus, continua a distorcer a vida de muitas
comunidades religiosas, dentro e fora do Cristianismo. Como escreveu o
teólogo dominicano sul-africano Alberto Nolan OP, “Jesus tem sido mais
frequentemente honrado e venerado por aquilo que ele não significou, do
que por aquilo que ele realmente significou. A suprema ironia é que
algumas das coisas, às quais Ele mais fortemente se opôs na sua época,
foram ressuscitadas, pregadas e difundidas mais amplamente através do
mundo – em seu nome.” O poder-dominação é frequentemente um desses
elementos.
Diante da recusa dos seus discípulos em entender o seu ensinamento,
Jesus, o Servo de Javé, pega uma criança como símbolo de quem deve
segui-Lo. Não porque criança é sempre santa nem inocente! Mas porque é
sem-poder, dependente dos adultos de tudo. No tempo de Jesus, criança
não tinha direitos, e era entre os últimos da sociedade. Os seus
discípulos são convidados a despojar-se do poder para serem servos, da
mesma maneira do que o Mestre, Ele que “não se apegou à sua igualdade
com Deus. Pelo contrário, esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição
de servo e tornando-se semelhante aos homens. Assim, apresentando-se
como simples homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a
morte, e morte da cruz” (Fl 2, 6-8).
O poder em si é um bem - para ser usado a serviço dos outros! Todos
nós - clero, religiosos, leigos - somos vulneráveis diante da tentação
do poder. Levemos a sério o ensinamento de hoje, pois só pode ser
discípulo de Jesus quem procura ser o servo de todos! Evitemos títulos,
privilégios, e comportamentos que tão facilmente poderão nos afastar do
seguimento do Senhor. Que o nosso modelo seja sempre Ele - e não os
critérios da sociedade vigente, onde é o poder que manda. A nossa força
vem da Cruz de Jesus, a fraqueza do Deus “que escolheu o que o mundo
despreza, acha vil e sem valor, para destruir o que o mundo pensa que é
importante” (1Cor 1, 28).
VIGÉSIMO SEXTO DOMINGO COMUM (30.09.12)
Mc 9, 38-43.45.47-48
“Quem não está contra nós está a nosso favor”
O texto de hoje nos coloca mais uma vez no contexto do ensinamento de
Jesus aos seus discípulos, enquanto caminhavam para Jerusalém. Já vimos
que a partir da “crise galilaica”, Jesus mudou a sua estratégia,
afastou-se das multidões e dedicou-se à formação mais intensa dos seus
discípulos, pois estes se mostravam incapazes de acolher a novidade do
Evangelho, com a mudança radical de atitudes que ele implicava.
A primeira atitude a ser corrigida, nos versículos de hoje, é a de
querer reservar o Espírito de Jesus como propriedade da comunidade. João
se queixa que um homem que não os seguia estava expulsando demônios em
nome de Jesus. Atitude mesquinha, de querer dominar o Espírito de Deus,
sequestrar o poder divino! Mas, infelizmente, uma atitude bastante
prevalecente em certos setores mais retrógrados das Igrejas ainda hoje,
que acham que toda a riqueza do mistério de Deus possa caber dentro das
margens estreitas das suas definições dogmáticas! Hoje, Jesus nos ensina
a verdadeira atitude de um discípulo: “Não lhe proíbam, pois... quem
não está contra nós, está a nosso favor” (v. 40). Temos que aprender a
acolher as manifestações verdadeiras do Espírito de Deus em todas as
religiões e culturas, e estar alertas para que nós mesmos não O
escondamos ou deturpemos!
A segunda parte do trecho nos coloca diante do problema do escândalo
dos pequenos na comunidade. Aqui cumpre ressaltar que “os pequenos”
neste texto não são as crianças, mas os humildes e pobres da comunidade
cristã. E é bom lembrar o sentido original da palavra “escândalo”. Vem
de um termo grego que significa “pedra de tropeço”. Então se trata de
uma situação em que os pequenos da comunidade “tropeçam”, isso é, não
conseguem manter-se em pé ou se afastam, por causa de certas atitudes
dos dirigentes comunitários (é bom notar que o discurso e as
advertências se dirigem aos discípulos, e não aos de fora). Deve ter
sido um problema comum, pois o Discurso Eclesiológico (isto é, da
Igreja) no Evangelho de Mateus trata do mesmo assunto (Mt 18, 6-14).
Usando imagens e linguagem tipicamente semitas: Jesus manda cortar e
jogar fora “a mão, o pé, e o olho”, que causam escândalos aos pequenos.
Obviamente não se propõe aqui uma mutilação física, mesmo se, ao longo
da história, houvesse quem assim o entendesse - por exemplo, Orígenes.
“Mão” significa a nossa maneira de agir, “pé” o modo de caminhar na vida
e “olho” o jeito de ver e julgar as coisas, ou até, a nossa ideologia.
Então o texto convida os dirigentes das comunidades cristãs (hoje
bispos, padres, pastores, irmãs, ministros etc) a reverem o seu modo de
agir, pensar e julgar, para averiguar se não estamos causando a queda
dos pequenos e humildes. Se descobrirmos que assim esteja acontecendo,
então devemos “cortar e jogar fora” - ou seja, mudar o que causa o
problema. Caso contrário, não experimentaremos na comunidade a presença
do Reino de Deus - a vivência dos valores do Evangelho, que Jesus deu a
vida para estabelecer.
A caminhada para Jerusalém, no Evangelho de Marcos, é um grande
ensinamento de Jesus para quem quer segui-Lo como discípulo. Trecho por
trecho, ele vai desafiando a mentalidade dos discípulos, tão marcada
pelos valores da sociedade vigente, e semeando os valores do Reino.
Hoje, Ele nos desafia a praticarmos um verdadeiro ecumenismo e diálogo
inter-religioso, e a revermos os nossos modos de agir e pensar, para que
a experiência cristã de comunidade seja uma amostra real dos valores do
Reino de Deus.
FONTE: DA REDAÇÃO DO SSVPBRASIL