quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A espiritualidade vicentina

 Dois nomes marcam a espiritualidade vicentina: São Vicente de Paulo e Frederico Ozanam. São Vicente, cognominado pai dos Pobres, conseguiu viver santa, humilde e pobremente em dois mundos bem diferentes. Frequentou ambientes sofisticados da corte francesa, de pessoas riquíssimas e, ao mesmo tempo, dedicou-se ao serviço humilde dos pobres. Vida de maravilhas espirituais e de caridade, ao lado de argúcia e capacidade diplomática. Saía do palácio onde cumpria a função de capelão da Rainha para distribuir esmolas aos pobres.
Impressiona como viveu contrastes. Preceptor dos filhos do general das galés e residindo no Palácio dos riquíssimos Gondi, não hesitou em pôr-se no lugar de escravos presos às mesmas galés. Lutara pela dignidade desses miseráveis condenados por crimes comuns, submetidos à punição de remar as embarcações, com freqüência amarrados a elas por grilhões.
A santidade permitia-lhe escapar ileso da contaminação do dinheiro e da glória para dedicar-se aos humildes e sofridos da humanidade. Passou esse espírito para a Congregação que fundou e inspirou o ramo feminino das Filhas da caridade. Caridade, humildade, serviço aos pobres, capacidade de viver em situações bem diversificadas marcam a vida e a espiritualidade desse gigante do século XVII.
Outro nome se liga a essa corrente espiritual quase dois séculos depois: Frederico Ozanam. Já na família respirava o ar da caridade para com os pobres. O pai, médico famoso, cuidava com desvelo dos enfermos indigentes, ao lado de uma esposa, também ela, feita pura caridade para com os pobres e enfermos.
Ozanam possuia extraordinário conjunto de qualidades. Embora tenha morrido relativamente jovem, aos 40 anos, preencheu bela vida. Vale dele o que rezamos na oração da liturgia da festa de Santo Estanislau Kostka, que morreu bem jovenzinho: entre os milagres da sabedoria divina está a graça de madura santidade em tenra idade. E mais expressivo ainda soa-nos o elogio da sabedoria daquele “que tendo alcançado em pouco tempo a perfeição, completou uma longa carreira. Sua alma era agradável ao Senhor” (Sb 4, 13s). Ozanam unia profunda humanidade, imensa cultura em literatura, filosofia, teologia e espiritualidade. Ofereceu a partir da fé cristã resposta contundente ao socialismo da época, ao mostrar exímio serviço aos pobres, não somente pessoalmente, mas fundando a “Conferência de caridade”, hoje espalhada pelo mundo inteiro sob o nome de “conferências vicentinas”. Soube apresentar a fé cristã e a prática pastoral consentâneas com os tempos polêmicos e difíceis em que viveu. Com esplendorosa eloquência, enfrentou debates em que a fé e a política, a dimensão religiosa e social entravam em questão. Não só refutou as objeções contra a oposição entre ambas, como demonstrou teórica e praticamente a autêntica mútua implicação.

Padre João Batista Libânio
Fonte: Site www.ssvpbrasil.org.br






 

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